Por J. Pinho
Garanto que essa foi uma dúvida que me atormentou o mês passado inteiro. Por isso bolei uma hipotética pesquisa de campo, na qual apostaria que 99,99% dos brasileiros responderiam à minha pergunta de forma positiva: “Sim! Claro, a floresta é nossa!” – o que, de fato, traduziria as próprias palavras do presidente Lula, ditas durante o lançamento do Plano da Amazônia Sustentável (PAS). Na ocasião, Lula declarou que quem decide os rumos da Amazônia é o Brasil.
Dias depois, em seu discurso de abertura no 20º Fórum Nacional, realizado no BNDES, o presidente reforçou seu ponto de vista, porém de forma mais enérgica: “A Amazônia tem dono sim. São os índios, os seringueiros, os pescadores, mas também somos nós, que temos consciência que é preciso diminuir o desmatamento e as queimadas.”
Ainda numa provável enquete, diria que os mesmo 99,99% dos brasileiros acreditariam que uma “exploração responsável” à região poderia trazer benefícios exorbitantes à humanidade, obviamente que com lucros astronômicos ao Brasil – o que também iria de acordo com a atual posição do nosso governo, explicitada no lançamento do PAS.
Agora, será que essas minhas supostas enquetes teriam os mesmos resultados se fossem realizadas fora do País? – “Claro que não!” Ainda no mês passado, o New York Times publicou uma matéria citando órgãos internacionais e políticos estrangeiros que negam a autonomia brasileira na região amazônica. Até o AL Gore, ex-candidato à Casa Branca e queridinho dos ambientalista de Hollywood, foi citado como adepto dessa teoria.
O tema ganhou dimensões gigantescas após ser temperado com a renúncia, ainda obscura, da Senadora Marina Silva do cargo de Ministra do Meio Ambiente. Para o lugar de Marina, Carlos Miac assumiu a pasta, e logo a princípio fez diversas exigências ao governo.
Então, veio-me à cabeça: por que será que tanta gente se interessa pela nossa Amazônia? – Desta vez larguei o chutômetro e fui atrás do que a região - tirando o sentimento patriotista- representaria em números para o Brasil.
De concreto, a Amazônia, em seus 5 milhões de quilômetros quadrados, possue um terço das florestas tropicais do Planeta, a maior bacia hidrográfica e a maior biodiversidade (fauna e flora) do mundo, reservas gigantescas de ferro, bauxita, cassiterita, urânio, diamante e inúmeros outros minerais. Resumindo: todas essas riquezas são incalculáveis. Porém, alguns estudos, talvez os menos otimistas, citam lucros anuais na casa dos 2 trilhões de dólares, se de modo “responsável” explorássemos a região.
Com essas cifras em jogo, você provável já está se babando para saber quando nos fartaremos com essa dinheirama. Muita calma, as coisas não são bem assim. Historicamente nossa realidade é outra. Ao analisarmos os termos “exploração” e “responsável”, vemos que nunca conseguimos combinar esses dois fatores. A Mata Atlântica agoniza em seus míseros 5% de território natural, deu lugar a megalópoles como São Paulo e Rio, situação só menos preocupante que a da Floresta da Araucária, onde menos de 1% da vegetação original ainda sobrevive no Sul do País. O desmatamento da Amazônia bate recordes freqüentes, por ano é devastada uma área do tamanho dos Países Baixos.
Com todo esse nosso belo histórico em proteção ambiental – é compreensivo, no mínimo, que a comunidade internacional e ambientalistas de plantão preocupem-se com mais um plano sobre sustentabilidade e/ou “exploração” amazônica. Mas será que os gringos só querem mesmo proteger a nossa selva? Estranho! Ainda mais se levarmos em conta que os países mais desenvolvidos do mundo simplesmente pulverizaram seus recursos naturais ao longo dos dois últimos séculos.
Há uma corrente apocalíptica, dentro do próprio Brasil, que prega que devemos lutar pela região – citam que crianças americanas, em suas aulas de geografia, são alfabetizadas com a Amazônia sendo considerada área de preservação, propriedade do mundo, não do Brasil. Pela internet circulam e-mails, remetidos por supostos funcionários públicos, que teriam horário para transitar pelas estradas de Rondônia, Acre ou Roraima, enquanto estrangeiros teriam livre acesso, relatam o difícil contato com os índios, que falam inglês, japonês, alemão, etc – tudo, menos português. Boatos? Talvez!
Enquanto isso, fora do País, agências de viagens promovem excursões pelos rios amazônicos em slogans do tipo: “Conheça agora, antes que eles (nós) acabem com ela!”.
No meio desse entrave é preciso ter bom senso. Se preservar a autonomia nacional é direito nosso – também não podemos abrir mão de órgãos internacionais que colaborem na proteção e fiscalização da região. – Afinal, ninguém confia em grandes latifundiários travestidos de políticos, certo?
Nessa suposta “guerra’ pela Amazônia, atrevo-me a dispensar até as enquetes para concluir que sabemos absolutamente nada sobre os benefícios da região. Isso mesmo! Nem ao menos conhecemos a floresta de forma razoável. Aí, garanto que eu, o Lula, o Mangabeira, o Miac, a Marina, o Al Gore, os ambientalistas de plantão, o NYTimes, a comunidade internacional, vocês (leitores), os brasileiros e os estrangeiros, concordamos em gênero, número e grau.
Obs.: Sei que o blog é de humor, mas não dava pra deixar isso de fora! Sabe como é, de repente, baixou o jabor!